Para compreendermos melhor, quero referir como é que a Igreja Católica
lida com a ideia do escritor sagrado, o escritor que capta aquilo que ele julga
ser a palavra de Deus.
Quando afirmamos que os textos são palavras de Deus, poderíamos imaginar que
Deus ditou as frases que Ele pretendia que chegassem aos leitores através dos
ouvidos do autor; É assim que são representados os autores de livros sagrados em
muitas pinturas vistas nas igrejas. Contudo, o fenómeno é muito mais complexo.
Este fenómeno chama-se inspiração. Mas esta inspiração não deve ser entendida da
mesma forma que um músico se inspira para criar uma obra, mas como a ação
discreta de Deus no mais íntimo do escritor sagrado. Esta inspiração respeita,
exatamente como é, a humanidade do autor, a sua cultura, as suas orientações, os
seus gostos, a sua escrita, como Luis Heriberto Rivas explica no seu livro "Os
livros e a história da Bíblia. Introdução ás Sagradas Escrituras".
É por este motivo que podemos verificar que os vários livros da Bíblia possuem
estilos completamente diferentes. E isto acontece precisamente porque o
hagiógrafo (o nome dado ao autor sagrado) está completamente envolvido naquilo
que Deus lhe ordenou que escrevesse. Desta forma, quando alguém pergunta sobre o
autor da Bíblia, devemos ter em conta esta dupla dimensão: por um lado, o autor
é Deus que inspira, por outro, é o hagiógrafo que cumpre o melhor que pode a
tarefa divina." (Sic. Luis Heriberto Rivas. Editorial San Benito. 2008).
Penso que este parágrafo é capaz de elucidar o mecanismo - alguns poderão dizer
- pelo qual a informação de Deus chega, primeiro ao escritor, e depois ao leitor
do texto sagrado. De qualquer forma, continua a ser difícil de imaginar. De
maneira que escrevi este relato ficcional com a intenção de permitir ao leitor
situar-se, ainda que por um momento, no lugar do nosso famoso observador....